Quadrado Imperfeito

26.10.04

QUERO SER GRANDE - parte 3

Não há como se negar que a obesidade está se tornando epidêmica, que as mortes em decorrência dela estão crescendo cada vez mais e que isso é algo assustador. Definitivamente, ela está se tornando um dos maiores problemas da humanidade. E um mal paradoxal: ao mesmo tempo em que é pronunciado e anunciado pelas volumosas formas que estamos adquirindo, é também silencioso e camuflado pela ignorância, arrogância, depressão, falta de cuidado e por outras de nossas características mas 'maléficas'.

Acredito que uma das saídas mais eficazes é a adoção de campanhas massivas de esclarecimento, utilizadas como forma de contra-propaganda. As propagandas "induzem" (muitas aspas mesmo nesse conceito) a certos comportamentos, mesmo os alimentares. É mais que certo e provado que a mídia tem um papel fundamental na cristalização de opiniões e no ato de ditar o comportamento das pessoas. O apelo sedutor das propagandas nos impele a experimentar um novo sanduíche da lanchonete, a provar o novo chocolate que saiu, a comprar mais e mais quantidades de besteirinhas nada saudáveis nas promoções das mega-stores e bombonieres. Pra lutar contra propagandas que contam com instrumentos de controle e influência tão requintados, é necessário contra-propaganda.

Temos o exemplo da indústria do tabaco e do álcool. Propagandas de cigarros e de álcool sempre contam com pessoas jovens, bonitas e felizes, curtindo suas vidas, esbanjando sorrisos brancos, saboreando seus vícios com tamanho prazer que a tentação é grande e você se sente compelido a experimentar e, até mesmo, a gostar! A busca pelo seu prazer através daquilo acaba se tornando algo essencial. Ou seja, somos instigados a repetir aquela fórmula que vemos na propaganda, acreditando que assim seremos mais felizes ou estaremos aproveitando mais a vida (ou fugindo da realidade triste e dura).

Mas diversas contra-proprangadas que mostram os efeitos nocivos do álcool e do cigarro são divulgadas, mostrando o lado duro e feio dessa realidade tão coloridamente transmitida: pessoas adquirem doenças diversas em funções do consumo - exagerado ou não - desses elementos. Além disso, o Ministério da Saúde, no Brasil, exige que, não apenas nas propagandas, mas também nos rótulos desses produtos, haja mensagens diversas alertando que seu consumo em excesso pode causar doenças graves. Numa estratégia chocante, são difundidas imagens de pessoas que - supostamente - sofrem os danos causados pelo abuso de bebidas e de fumo. Em parceira - implícita ou não - com o Ministério da Educação, é distribuída uma quantidade enorme de materiais explicativos e elucidativos sobre essas substâncias, de modo a alertar para o uso perigoso delas.

Mas é claro que eu não sou ingênuo de acreditar que meramente a contra-propaganda - seja ela em nível nacional ou mesmo num âmbito particular e pessoal - seria a resposta concreta para essa questão. É preciso que as sociedades passem por uma grande e profunda transformação: a mudança da mentalidade individual e da mentalidade social.

Que mudanças seriam essas?

Postado por:Andreh
Hora:10:41 AM
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14.10.04

QUERO SER GRANDE - parte 2

Ao olharmos para o caso levantado por Sporluck em "Super Size Me", podemos perceber que a questão tem vários lados, diversas argumentações e contra-argumentações. Assim, é difícil atribuir a culpa a alguém... logo, culpo a todos!

De certa maneira, tudo começou com o evidente sedentarismo do ser humano. A partir do momento em que os nossos ancestrais resolveram deixar de perambular como nômades e decidiram fixar residência, o nosso destino como sociedade foi selado. A alimentação mudou drasticamente e o modo de vida também. Não que fosse fácil viver de caça e agricultura de subsistência, mas o simples fato de fixar-se em uma região já diminuía consideravelmente a carga de exercícios e esforços que o ser humano executava.

E, no final das contas, buscar a praticidade e menos esforço é o que todos nós queremos. Ninguém - salvo algumas exceções - quer fugir do conforto! A busca pelo conforto e pelo prazer levou a soluções e invenções cada vez mais criativas pra diminuir o nosso esforço. Uma série de invenções foi surgindo ao longo do tempo com a finalidade de facilitar a nossa vida sedentária, seja diminuindo o nosso esforço, a quantidade de tempo dispendido ou ambos.

A invenção do telégrafo, por exemplo, encurtou as distâncias, permitindo ao homem fazer menos esforços pra se comunicar com seus semelhantes que estavam à distância. Assim como o telefone facilitou o contato entre as pessoas e - com a internet - aumentou o alcance do contato diminuindo mais e mais o esforço físico para a execução de tal ação. Vencemos barreiras físicas e abstratas - como o tempo.

Mas a nossa preguiça só tem contribuído para a nossa desgraça. A comodidade que um controle remoto proporciona te faz deixar de queimar várias calorias. Ninguém mais levanta do sofázão ou da cama pra mudar de canias de TV, pra trocar de estação de rádio, pra trocar o CD (até porque, existem aparelhos de som que comportam vários CDs, mais de 100 em alguns casos), pra desligar o forno.

Além disso, os diferentes "modos-de-produção" pelos quais as diversas sociedades passaram comportam também várias formas de 'exploração'do trabalho alheio, na tentativa de amenizar o próprio esforço. Não há dúvidas hoje em dia de que o gasto de dinheiro com uma diarista compensa em muito o esforço que a patroa deixou de fazer pra cuidar da casa.

É inegável que tais tecnologias e regalias permitiram avanços de valor incalculável, porém, a que preço? São esses fatores combinados, provenientes não só do nosso sedentarismo, mas da nossa preguiça: estamos ficando cada vez mais obesos porque estamos combinando perigosamente a nossa acomodação/prazer com uma alimentação cada vez mais inadequada.

Afinal, em nome da praticidade e na correria do dia a dia, estamos optando por comer em fast foods ou por outros tipos de alimentação que pouco acrescentam às nossas necessidades básicas diárias.

Existe uma solução para esse tipo de problema?

Postado por:Andreh
Hora:12:02 PM
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4.10.04

QUERO SER GRANDE - parte 1

Aproveitando o mote do Festival do Rio, resolvi falar de um filme que, de certa forma, mexeu comigo. Eu o assisti na véspera do festival, no seu último dia de exibição.

Então, tá! Assisti "Super Size Me", mas pela loucura que a coisa toda me pareceu do que por qualquer outro motivo. Nesse documentário, o diretor e roteirista Morgan Spurlock resolve provar o quanto a venerada fast food faz mal. De que maneira? Ele passa um mês inteiro se alimentando apenas da comida feita pelo McDonald's. O esultado: depois de 30 dias, ele quase destruiu o fígado, perdeu massa muscular, engordou 12kg, experimentou náuseas, enxaquecas e - impactante - crises de euforia e depressão como as que a gente encontra em casos de pessoas viciadas em drogas.

O mais impressionante é que a motivação de Spurlock de levar a cabo tal projeto partiu de uma onda de processos que se estabeleceu nos USA contra as redes de fast food, sendo estas acusadas de engordar as pessoas ou de contribuir significativamente para o seu aumento de gordura. Além dos acusadores perderem os processos, o governo aprovou uma medida que proíbe qualquer pessoa de entrar na justiça contra as redes de fast food por esse motivo. E Spurlock provou que realmente as comidas do fast food fazem muito mal.

O filme segue a mesma linha irônica dos documentários do Michael Moore, porém é mais objewtivo nas acusações. Há sacadas genias de Spurlock, como o fato dele se obrigar a andar e se exercitar apenas na média que um americano típico executa tais ações. Mas há algumas falhas de argumento. Por exemplo, Spurlock, de início, passa muito mal com a fast food, mas isso era de se esperar que acontecesse com alguém que, durante anos, só se alimentava de cozinha macrobiótica, alimentos integrais e outras coisinhas da chamada "alimentação saudável".

O que me motivou a escrever foi um questionamento que me perturbou durante todo o filme: será que a culpa da sociedade estar cada vez mais obesa é realmente das cadeias de fast food? A responsabilidade é das indústrias alimentícias ou ela é nossa?

Postado por:Andreh
Hora:5:04 PM
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