30.4.03

Como eu ando tão "satisfeito" com o governo do estado do Rio de Janeiro (isso é uma ironia, tá ok?), aqui vai para o deleite do público leitor uma anedota que me foi enviada pela minha amiga Letícia Ramos, com o singelo título de "SONHAR NÃO CUSTA NADA...": "Estava a nossa Garotinha Governadora do Estado do Rio de Janeiro no seu gabinete, olhando as pessoas passando na rua e pensando no 13º não pago até hoje, quando teve uma idéia. Disse: - 'Vou jogar pela janela uma nota de 100 Reais. Assim eu faço um carioca feliz'. Um dos assessores estava ao lado e disse: - 'Não Sra. Governadora Rosinha, troque por duas de 50 e faça 2 cariocas felizes'. Outro de seus assessores retorquiu: - 'Nada disso troque por 10 de 10 Reais e faça 10 cariocas felizes!' Estava um pobre coitado de um faxineiro limpando o gabinete e, vendo que todo o mundo havia opinado, resolveu também opinar. Pediu para dar uma idéia e disse: - 'Não, Dª Rosinha, pule a Sra. daqui de cima que faz logo toda a população do Rio de Janeiro feliz!'" Comovente, não? A sabedoria às vezes encontra-se entre os mais humildes... E não se esqueça de participar da campanha RosinhaNÃO! Postado por:Andreh Hora:2:02 PM |

26.4.03

FALANDO NA MALDITA... Pois é, pessoas, hoje eu estava passeando no Botafogo Praia Shopping (ver ovos de Páscoa quebrados pela metade do preço, presentes pro dia das mães e os horários das sessões de estréia de X-Men 2) quando, num acesso de fúria quase-consumista, resolvi dar um pulinho (de 40 minutos) na Siciliano. Chegando lá, me deparei com o Cd da Madonna, novíssimo em folha. Não resisti, fui ouvir a maldita. E, no meu vício de blog, resolvi escrever logo pra contar as minhas impressões sobre o novo trabalho da cantora. Pra começar, eu detesto quando vou ler uma sinopse de algum filme e nela está escrito algo do tipo: "Sexta-feira 13 encontra Moulin Rouge" ou "é um misto de Clube da Luta com ...E o vento levou".... Isso que eu escrevi parece que nada tem a ver com o assunto, mas é que a minha primeira sensação depois de ouvir o CD "American Life" foi justamente a de pensar que Madonna misturou um monte de ingredientes e fez uma salada... aliás, uma salada Ceasar deliciosa. Madonna pega carona no sucesso do álbum anterior, "Music", e aposta mais uma vez na música eletrônica, com a qual ela sempre flertou, um filão que ela começou a investir mais pesadamente em seu ótimo álbum "Ray of light". Ela começa a demonstrar mais maturidade e sua independência característica. As batidas do violão e da guitarra são bem marcantes nas músicas. as letras são regulares e algumas melodias podem ser confortantemente parecidas com a própria Madonna dos anos 80. Marcantes também são outras semelhanças. Como por exemplo, na ótima faixa "Hollywood", Maddona soa como "Sheryl Crow encontra Massive Attack". Em algumas baladas, como "Nobody Knows Me", há uma forte tendência folk aliada às batidas eletrônicas de Mirwais. Essas misturas rocambolescas recheiam todo o álbum, com resultados muito bons, pelo menos para os meus ouvidos... e olha que o fone do aparelho estava meio caído! As letras são fáceis, até bobinhas e/ou banais em alguns aspectos, mas nada que comprometa o resultado final. Um ótimo exemplo disso é a faixa "Mother and father" que, mesmo com umas batidas eletrônicas louquíssimas faz você ficar com aquele ar de "que gracinha"! Além do mais, Madonna continua com um tino musical perfeito para arrasar nas pistas de dança. A faixa-título, "American Life", vai embalar a noite de muitos marmanjos(as) frequentadores de boates, para animar aqueles que já estavam saudosos da poderosa "Die Another Day" (também presente no novo álbum). O agravante: TÁ MUITO CARO! Mesmo com desconto de 22%! Custa nada mais(?) nada menos (?) que R$31.90 (sim, senhoras, senhores e senhoritas: trinta e um reais e noventa centavos - com o desconto de 22% já incluído... ou excluído?). Eu sei que as coisas na Siciliano são meio caras, mas em qualquer lugar que se procure (pelo menos na internet e em lojas de CDs dos shoppings), não se encontra o CD por menos de trinta contos de réis... perdão, por menos de trinta reais. Uma facada no meu órgào mais vital: o bolso! Sei que saí transtornado da loja, com aquele gostinho de "quero mais" e um desconsolo pela minha pobreza material e monetária aliada à ganância abusiva da indústria fonográfica (isso é um assunto que, algum dia, pretendo colocar neste quadrado). agora, eu só vejo 2 opções: ($) Aguardar o meu "room-mate" viciado em Madonna chegar de viagem feliz, sorridente e disposto a gastar R$31.90 no CD OU (#) Aguardar o CD da Madonna chegar ao "mercado paralelo" da rua Uruguaiana a um preço acessível. Aliás, nesse aspecto, confio mais na Uruguaiana... Onde mais, por exemplo, eu encontraria um CD ORIGINAL e NOVO da Alanis Morissette pela bagatela de 15 pratas? Um achado, uma pechincha, uma preciosidade!! O que me chateia é justamente o verbo AGUARDAR que se encontra nas minhas duas soluções... Postado por:Andreh Hora:2:33 AM |

11.4.03

A questão do auto-conhecimento é complicada. Desde os primórdios o homem se pergunta:"Quem eu sou? De onde vim? Para onde vou?", ou seja, nos incomodamos com essas questões porque não temos respostas para elas, mesmo porque, variando para cada pessoa, não chegamos a um conhecimento pleno de nós mesmos. Isso nos deixa, muitas vezes, perdidos, sem direção, sem noção caminhos. É engraçado que a maioria das pessoas confunda inércia com estagnação. Estados de inércia provocam reflexões e mudanças também, mas a estagnação não produz nada. A inércia é um tipo de movimento permanente (inclusive "estar parado" - e não a "parada" - é um tipo de movimento, ou contra-movimento), enquanto que a estagnação é a parada total, onde nada acontece, nem a reflexão. Para se chegar à estagnação é necessário uma inércia tão profunda e constante aliada a um comodismo que impede a tomada de decisões que remetam a ações contrárias, a movimentos rumo a objetivos. A idéia de uma vida estagnada me incomoda... e me incomoda muito! :P Acho que, seja inércia ou estagnação, o que não vale a pena é não refletir e, sobretudo, não buscar o movimento, a mudança, a transformação, a força-motora/motriz/motivadora... tá um papo muito "física", não? Então, o que eu acho é que, em nossas vidas, há sempre momentos em que nada parece acontecer, deslanchar, onde parece que tudo o que a vida nos tinha pra oferecer já nos foi oferecido. Diante desses momentos, temos duas escolhas: ou nos acomodamos com essa situação, paramos de vez, desistimos dessa luta diária que se chama vida (eis a estagnação); ou refletimos sobre esse momento (eis a inércia). Se optamos pela primeira escolha, nada mais há a ser feito. Mas, ao escolhermos a segunda opção, temos mais dois caminhos: o movimento regressivo, que é aquele onde a gente apenas pensa, reflete, medita, mas a única ação que tomamos é a de uma resignada amargura ou de rebeldia derrotista perante a vida; e o movimento progressivo, que nos impele para frente, ou seja, é, aquele ímpeto de insatisfação e aquela vontade renovadora de transformar a própria vida. Claro que todos nós, seres humanos habitantes desta 3ª rocha maluca, passamos por momentos de reflexão e de mudança. Mas a força-motriz da mudança somos nós mesmos. A inicativa de mudar algo, em qualquer âmbito de nossas vidas, está dentro de nós, ou melhor, tem que estar dentro de nós. E às vezes nos faltam motivos ou forças para realizar a transformação. Acredito que a tomada de atitudes passivas no que diz respeito a esses aspectos da vida não nos leva a outro lugar que não à estagnação e, com isso, à infelicidade. O caminha da satisfação, do auto-conhecimento, do prazer, é tortuoso, mas exige pelo menos um mínimo de esforço, de movimento progressivo, de busca de um "alguma coisa", de um "algo" ou um "alguém", de um norte. Sal (e qualquer outra pessoa), qual é o seu norte? E o que você tem feito efetivamente para atingir o seu norte? Qual dos caminhas você escolheu: a estagnação, uma inércia pré-movimento regressivo ou uma inércia pré-movimento progressivo? O que te impede de progredir: a vida ou a sua auto-sabotagem? Lembrem-se: cruzar os braços não conduz a lugar nenhum... E, como disse um sábio filósofo (que não me lembro quem é no momento): "é preciso mudar muito pra se continuar a ser você mesmo"! Postado por:Andreh Hora:2:34 PM |

8.4.03

Mais sobre a guerra... [#] Com bom humor: charge! [#] Com seriedade: Guerra: O Fim do Ocidente Liszt Vieira Sociólogo - PUC-RJ / UFF Pres. J. Botânico José Paulo Bandeira da Silveira Cientista Político–UFRJ Quando: QUINTA-FEIRA – Dia 10/04 - 18:30h Onde: Câmara Municipal do Rio de Janeiro - Cinelândia Promoção: CEPTES/Apoio: Eliomar Coelho Postado por:Andreh Hora:11:28 AM |

Uma das minhas grandes preocupações nesse período que antecedeu a guerra era a ONU. Como organismo internacional, a ONU tinha um papel relevante, mas perdeu todo o respeito e respaldo quando o 'Bucha' e o 'Blairg' (santa duplinha, Batman!) resolveram desrespeitar claramente tal organismo internacional. Me dava medo saber que aqueles que deveriam servir de bom exemplo para o mundo não respeitavam o papel da ONU nem seus próprios papéis. Pois bem, muito se discutiu acerca do papel da ONU no pós-guerra (que não chega nunca!), mas o jornal O Globo de hoje publicou uma nota sobre esse papel na visão da duplinha satânica anti-Saddam (para ver a nota d'O Globo, clique aqui. Há uma notícia um pouco maior, mas com mesmo nível de desinformação no site da MSN). Basicamente, a ONU, um órgão "regulador" de políticas externas e de diplomacias, foi reduzida ao modo como Bush a enxerga: uma simples agência de ajuda humanitária.... É triste ver o nosso mundo ruir e se transformar num lugar como George W. Bush imagina que ele deva ser! ... Será que o Bush pensa que o mundo é como o Texas? Postado por:Andreh Hora:11:12 AM |

3.4.03

Ainda em se tratando do assunto "guerra", hoje eu recebi um e-mail divertido, com a seguinte mensagem: "PROTESTO SINDICAL: Sindicato Único de Prostitutas, Meretrizes e Cafetinas - SINDIPROSTI - esclarece a opinião pública que, apesar das afirmações da maioria dos manifestantes no mundo inteiro, o cidadão George W. Bush não é filho de nenhuma de nossas associadas". Só com bom-humor pra se conseguir paz! Aproveitando o clima de xingar o Bush (e para descontrair), descobri, enfim, um teste útil na internet: "QUE PALAVRÃO VOCÊ É?" Meu resultado foi: Que palavrão você é? Para fazer o teste (é simples e rápido), basta clicar na figura acima... divirtam-se! Postado por:Andreh Hora:12:35 PM |

2.4.03

Mais sobre a guerra: * Pra quem quer opiniões interessantes, como eu já disse, é só acessar o blog da Cora Rónai acessando aqui. Além do que a Cora escreve, há vários links para sites e notícias bastante interessantes. * Três dos mais importantes pensadores da atualidade - José Saramago, Boaventura de Sousa Santos e Eduardo Galeano - escrevem sobre a guerra e expressam, cada um a seu modo, os motivos pelos quais são contra o ataque da coalizão liderada por EUA e Inglaterra contra o Iraque – sustentado apesar de forte oposição da opinião pública internacional. Boaventura pergunta se "a nova ilusão não anunciará a radicalização e perversão última da ilusão ocidental: destruir toda a humanidade com a ilusão de a salvar", enquanto Galeano ironiza - lembrando que "como de costume, declara-se a guerra em nome da paz" - e Saramago ressalta: "eles querem a guerra, mas nós não vamos deixá-los em paz". Para ler as matérias, basta acessar a REVISTA DO TERCEIRO SETOR, no link da RETS. * Para quem quer tomar mais providências ou ver outras informações, basta clicar no link da página Iraq War Action pra ter acesso ao site. Está em inglês, mas acho que isso não é tão problemático. É um site feito e distribuído pelos electrohippie collective, uns"cyber-ativistas-pacifistas", muito interessante, vale a pena ler e participar. * A sempre polêmica Madonna, mesmo manifestando publicamente seus desejos de paz, resolveu adiar o lançamento mundial de seu novo clip "Amercian Life", onde há uma certa crítica ao "american-way-of-life" e à guerra em si. Pra ler, basta acessar a notícia linkada. * Quer ter notícias da guerra antes que elas sejam editadas e maquiadas pela CNN ou por outras agências reguladoras? acessem o site da TV Al Jazeera: clique aqui. Por hoje é só... Postado por:Andreh Hora:12:59 PM |

1.4.03

Continuando a falar sobre a guerra, reproduzo aqui uma carta que anda circulando pela internet, atribuída ao escritor e poeta moçambicano Mia Couto e destinada ao presidente-bucha-de-canhão dos EUA. Mesmo que não seja verdadeira, a mensagem é o mais importante. Seu conteúdo é forte, seus argumentos são mais do que válidos e justos. Pena que, se um norte-americano estadunidense médio tivesse a oportunidade de lê-la, ainda assim não teria a inteligência e/ou o conhecimento (escolham o conceito que melhor se aplica) necessário(s) para entendê-la realmente: "Senhor Presidente: Sou um escritor de uma nação pobre, um país que já esteve na vossa lista negra. Milhões de moçambicanos desconheciam que mal vos tínhamos feito. Éramos pequenos e pobres: que ameaça poderíamos constituir? A nossa arma de destruição massiva estava, afinal, virada contra nós: era a fome e a miséria. Alguns de nós estranharam o critério que levava a que o nosso nome fosse manchado enquanto outras nações beneficiavam da vossa simpatia. Por exemplo, o nosso vizinho - a África do Sul do "apartheid" - violava de forma flagrante os direitos humanos. Durante décadas fomos vítimas da agressão desse regime. Mas o regime do "apartheid" mereceu da vossa parte uma atitude mais branda: o chamado "envolvimento positivo". O ANC esteve também na lista negra como uma "organização terrorista!". Estranho critério que levaria a que, anos mais tarde, os taliban e o próprio Bin Laden fossem chamadas de "freedom fighters" por estrategas norte-americanos. Pois eu, pobre escritor de um pobre país, tive um sonho. Como Martin Luther King certa vez sonhou que a América era uma nação de todos os americanos. Pois sonhei que eu era não um homem mas um país. Sim, um país que não conseguia dormir. Porque vivia sobressaltado por terríveis factos. E esse temor fez com que proclamasse uma exigência. Uma exigência que tinha a ver consigo, Caro Presidente. E eu exigia que os Estados Unidos da América procedessem à eliminação do seu armamento de destruição massiva. Por razão desses terríveis perigos eu exigia mais: que inspectores das Nações Unidas fossem enviados para o vosso país. Que terríveis perigos me alertavam? Que receios o vosso país me inspiravam? Não eram produtos de sonho, infelizmente. Eram factos que alimentavam a minha desconfiança. A lista é tão grande que escolherei apenas alguns: - Os Estados Unidos foram a única nação do mundo que lançou bombas atómicas sobre outras nações; - O seu país foi a única nação a ser condenada por "uso ilegítimo da força" pelo Tribunal Internacional de Justiça; - Forças americanas treinaram e armaram fundamentalistas islâmicos mais extremistas (incluindo o terrorista Bin Laden) a pretexto de derrubarem os invasores russos no Afeganistão; - O regime de Saddam Hussein foi apoiado pelos EUA enquanto praticava as piores atrocidades contra os iraquianos (incluindo o gaseamento dos curdos em 1988); - Como tantos outros dirigentes legítimos, o africano Patrice Lumumba foi assassinado com ajuda da CIA. Depois de preso e torturado e baleado na cabeça o seu corpo foi dissolvido em ácido clorídico; - Como tantos outros fantoches, Mobutu Seseseko foi por vossos agentes conduzido ao poder e concedeu facilidades especiais à espionagem americana: o quartel-general da CIA no Zaire tornou-se o maior em África. A ditadura brutal deste zairense não mereceu nenhum reparo dos EUA até que ele deixou de ser conveniente, em 1992; - A invasão de Timor Leste pelos militares indonésios mereceu o apoio dos EUA. Quando as atrocidades foram conhecidas, a resposta da Administração Clinton foi "o assunto é da responsabilidade do governo indonésio e não queremos retirar-lhe essa responsabilidade"; - O vosso país albergou criminosos como Emmanuel Constant, um dos líderes mais sanguinários do Taiti, cujas forças para-militares massacraram milhares de inocentes. Constant foi julgado à revelia e as novas autoridades solicitaram a sua extradição. O governo americano recusou o pedido. - Em Agosto de 1998, a força aérea dos EUA bombardeou no Sudão uma fábrica de medicamentos, designada Al-Shifa. Um engano? Não, tratava-se de uma retaliação dos atentados bombistas de Nairobi e Dar-es-Saalam. - Em Dezembro de 1987, os Estados Unidos foi o único país (junto com Israel) a votar contra uma moção de condenação ao terrorismo internacional. Mesmo assim, a moção foi aprovada pelo voto de cento e cinquenta e três países. - Em 1953, a CIA ajudou a preparar o golpe de Estado contra o Irão na sequência do qual milhares de comunistas do Tudeh foram massacrados. A lista de golpes preparados pela CIA é bem longa. - Desde a Segunda Guerra Mundial, os EUA bombardearam: a China (1945-46), a Coreia e a China (1950-53), a Guatemala (1954), a Indonésia (1958), Cuba (1959-1961), a Guatemala (1960), o Congo (1964), o Peru (1965), o Laos (1961-1973), o Vietname (1961-1973), o Camboja (1969-1970), a Guatemala (1967-1973), Granada (1983), Líbano (1983-1984), a Líbia (1986), Salvador (1980), a Nicarágua (1980), o Irão (1987), o Panamá (1989), o Iraque (1990-2001), o Kuwait (1991), a Somália (1993), a Bósnia (1994-95), o Sudão (1998), o Afeganistão (1998), a Jugoslávia (1999). - Acções de terrorismo biológico e químico foram postas em prática pelos EUA: o agente laranja e os desfolhantes no Vietname, o vírus da peste contra Cuba que durante anos devastou a produção suína naquele país. - O Wall Street Journal publicou um relatório que anunciava que 500.000 crianças vietnamitas nasceram deformadas em consequência da guerra química das forças norte-americanas. Acordei do pesadelo do sono para o pesadelo da realidade. A guerra que o Senhor Presidente teimou em iniciar poderá libertar-nos de um ditador. Mas ficaremos todos mais pobres. Enfrentaremos maiores dificuldades nas nossas já precárias economias e teremos menos esperança num futuro governado pela razão e pela moral. Teremos menos fé na força reguladora das Nações Unidas e das convenções do direito internacional. Estaremos, enfim,mais sós e mais desamparados. Senhor Presidente: O Iraque não é Saddam. São 22 milhões de mães e filhos, e de homens que trabalham e sonham como fazem os comuns norte-americanos. Preocupamo-nos com os males do regime de Saddam Hussein que são reais. Mas esquece-se os horrores da primeira guerra do Golfo em que perderam a vida mais de 150.000 homens. O que está destruindo massivamente os iraquianos não são as armas de Saddam. São as sanções que conduziram a uma situação humanitária tão grave que dois coordenadores para ajuda das Nações Unidas (Dennis Halliday e Hans Von Sponeck) pediram a demissão em protesto contra essas mesmas sanções. Explicando a razão da sua renúncia, Halliday escreveu: "Estamos destruindo toda uma sociedade. É tão simples e terrível como isso. E isso é ilegal e imoral". Esse sistema de sanções já levou à morte meio milhão de crianças iraquianas. Mas a guerra contra o Iraque não está para começar. Já começou há muito tempo. Nas zonas de restrição aérea a Norte e Sul do Iraque acontecem continuamente bombardeamentos desde há 12 anos. Acredita-se que 500 iraquianos foram mortos desde 1999. O bombardeamento incluiu o uso massivo de urânio empobrecido (300 toneladas, ou seja 30 vezes mais do que o usado no Kosovo). Livrar-nos-emos de Saddam. Mas continuaremos prisioneiros da lógica da guerra e da arrogância. Não quero que os meus filhos (nem os seus) vivam dominados pelo fantasma do medo. E que pensem que, para viverem tranquilos, precisam de construir uma fortaleza. E que só estarão seguros quando se tiver que gastar fortunas em armas. Como o seu país que dispende 270.000.000.000.000 dólares (duzentos e setenta biliões de dólares) por ano para manter o arsenal de guerra. O senhor bem sabe o que essa soma poderia ajudar a mudar o destino miserável de milhões de seres. O bispo americano Monsenhor Robert Bowan escreveu-lhe no final do ano passado uma carta intitulada "Porque é que o mundo odeia os EUA?". O bispo da Igreja Católica da Florida é um ex-combatente na guerra do Vietname. Ele sabe o que é a guerra e escreveu: "O senhor reclama que os EUA são alvo do terrorismo porque defendemos a democracia, a liberdade e os direitos humanos. Que absurdo, Sr. Presidente! Somos alvos dos terroristas porque, na maior parte do mundo, o nosso governo defendeu a ditadura, a escravidão e a exploração humana. Somos alvos dos terroristas porque somos odiados. E somos odiados porque o nosso governo fez coisas odiosas. Em quantos países agentes do nosso governo depuseram líderes popularmente eleitos substituindo-os por ditadores militares, fantoches desejosos de vender o seu próprio povo às corporações norte-americanas multinacionais? E o bispo conclui: O povo do Canadá desfruta de democracia, de liberdade e de direitos humanos, assim como o povo da Noruega e da Suécia. Alguma vez o senhor ouviu falar de ataques a embaixadas canadianas, norueguesas ou suecas? Nós somos odiados não porque praticamos a democracia, a liberdade ou os direitos humanos. Somos odiados porque o nosso governo nega essas coisas aos povos dos países do Terceiro Mundo, cujos recursos são cobiçados pelas nossas multinacionais". Senhor Presidente: Sua Excelência parece não necessitar que uma instituição internacional legitime o seu direito de intervenção militar. Ao menos que possamos nós encontrar moral e verdade na sua argumentação. Eu e mais milhões de cidadãos não ficamos convencidos quando o vimos justificar a guerra. Nós preferíamos vê-lo assinar a Convenção de Kyoto para conter o efeito de estufa. Preferíamos tê-lo visto em Durban na Conferência Internacional contra o Racismo. Não se preocupe, senhor Presidente. A nós, nações pequenas deste mundo, não nos passa pela cabeça exigir a vossa demissão por causa desse apoio que as vossas sucessivas administrações concederam a não menos sucessivos ditadores. A maior ameaça que pesa sobre a América não são armamentos de outros. É o universo de mentira que se criou em redor dos vossos cidadãos. O perigo não é o regime de Saddam, nem nenhum outro regime. Mas o sentimento de superioridade que parece animar o seu governo. O seu inimigo principal não está fora. Está dentro dos EUA. Essa guerra só pode ser vencida pelos próprios americanos. Eu gostaria de poder festejar o derrube de Saddam Hussein. E festejar com todos os americanos. Mas sem hipocrisia, sem argumentação e consumo de diminuídos mentais. Porque nós, caro Presidente Bush, nós, os povos dos países pequenos, temos uma arma de construção massiva: a capacidade de pensar. Mia Couto" *** Só pra lembrar: Moçambique é um dos países africanos que falam a língua portuguesa. É também uma das nações mais pobres da África e sofre restrições e embargos de várias espécies por sua luta pra ser realmente um Estado autônomo e independente e se livrar da miséria imposta ao seu povo desde a sua colonização. Postado por:Andreh Hora:5:48 PM |